domingo, 22 de setembro de 2013

Globo Mar mostra pesca de bacalhau no mar da Noruega

O Globo Mar foi até nas águas frias e traiçoeiras do mar da Noruega para mostrar a pesca de um peixe que nós aprendemos a comer com os nossos irmãos portugueses e que o brasileiro adora: o bacalhau.
A temperatura chega a -5°C, o mar mexe muito, a operação é arriscada. Mas tudo vale a pena pra mostrar  a pesca do bacalhau no Globo Mar. Todos a bordo.  O cenário completamente novo para o Globo Mar. Neve nas montanhas, nas ruas, nos barcos. Neve em alto mar. Que lugar é esse? Vá girando o globo terrestre. Está vendo o círculo polar ártico? Mais para cima.
Fomos a Andenes, 300 quilômetros ao norte do círculo do frio. Mais um pouco e chegaríamos ao Polo Norte.
As imagens mostram um cais totalmente branco.  Muito bonitinho para olhar, mas eu vou dizer que para andar, e o frio também, não precisava de tanta neve. Mas o importante é embarcar no Karl Wilhelm, que é um barco lendário na história da pesca do bacalhau na Noruega. Ele é já da mesma família há três gerações. E o comandante é o Thomas.  O avô dele começou esse trabalho  e é considerado o maior pescador de bacalhau de toda a Noruega.
E o mais legal, o Thomas é casado com uma brasileira  e fala português.  O Globo Mar seguiu a bordo junto com Thomas em busca de bacalhau.  O barco é justinho, não tem uma grandeza de espaços, mas é o que é necessário. Eles não vão muito distante.
São quatro tripulantes a bordo, contando com o comandante. Deixamos pra trás a pequena vila de Andenes, emoldurada montanhas brancas cobertas de neve. Thomas está com 28 anos e pesca desde os 19.  Ele conta que toda sua família é de pescadores e que é da pesca que ele tira o sustento para uma vida confortável.
Globo Mar: Você que escolheu essa profissão? Ou seu pai, seu avó obrigaram você a pescar?
Thomas: Minha família são todos pescadores, da parte da mãe e parte do meu pai. Fui no mar com esse barco, com meu avô, eu tinha 3 anos. Eu não fui pescar, só.
Globo Mar:  Esse trabalho permite a você ter uma vida confortável?
Thomas:  Sim, a gente trabalha bastante, também tem suficiente dinheiro pra viajar, ter uma casa e tudo que a gente precisa. Se você pega bastante peixe, paga bem.
Globo Mar: Um pescador ajuda o outro?
Thomas: Sim. Mas também é um pouco competidor. Se você pega muito peixe, você espera um pouco pra falar.
Thomas mostra que tem um radar pra ver outros barcos quando está escuro ou com neblina.
Hora de pescar! A corda é jogada no mar com uma âncora numa ponta e uma bóia na outra. Aí, o barco vai navegando até soltar mil e quinhentos metros de corda.  Depois, faz uma curva e lança a rede.
Em seguida, outra curva, mais um quilômetro e meio de corda é esticado e o barco volta à boia, completando a armadilha para os peixes.
Estrutura montada, temperatura de -7°C e sensação térmica de -15°C por causa do vento polar, começa o arrasto.
Arrastadas no fundo do mar, as cordas levantam areia. Assustam os peixes, que se concentram no meio delas.  O cerco se fecha. Os peixes acabam no fundo da rede: um longo saco em forma de funil.
Eles dizem que gostam de pescar dessa forma que é mais eficiente. E principalmente porque você pega mais peixe a cada vez. Essa é uma época boa para fazer esse tipo de pescaria, porque é a época de reprodução do bacalhau. Então os peixes estão andando em grandes cardumes.
Entre janeiro e maio, o bacalhau migra do mar de Barents, mais ao norte, para o litoral norte da Noruega.
A quantidade de peixe é muito grande, o  peixe é grande, cada um tem de 4, 5, 6 quilos. São sete toneladas de bacalhau só em uma puxada de rede, sete mil quilos de peixe.  Parece fácil, mas não é fácil, não. Vida de pescador de bacalhau é sofrida.
A água do mar passa direto pelo convés. Agora sabe quanto esse povo ganha por mês? De R$ 10mil até R$ 20 mil por mês. Dá para entender porque eles se submetem. Eles sangram o peixe, retiram a maior parte do sangue do animal, para evitar que a carne fique escura. O que não é bacalhau, eles limpam no barco mesmo. O que é bacalhau que tem valor comercial mais importante, eles sangram imediatamente, mas não limpam não. A grande maioria é da melhor qualidade que é conhecida como Gadus Mohua. Esse é o melhor bacalhau que existe, considerado o mais nobre de todos.
O segundo colocado é o bacalhau do Pacífico. Depois tem outros três tipos, mas que não têm o mesmo rendimento, principalmente não tem o mesmo paladar. Professor Marcelo explica isso melhor. Nosso consultor está no barco de apoio. Chegando em terra, ele explica isso melhor.
Depois de um dia congelante no mar, nada mais gostoso do que ver o farol de Andenes. A pesca do bacalhau é toda feita próxima do porto de Andenes.  E eles não vão muito longe também porque eles podem voltar todos os dias e descarregar para garantir a qualidade do peixe.
É por isso que por hoje chega. Vamos à terra, a neve nos espera, que maravilha, que delícia, quero tomar um sorvete, onde tem um picolé?
Picolé  não encontramos.  Mas tem sim uma fábrica de gelo. Como se já não tivesse bastante. Esse gelo é usado para esquentar o bacalhau que está dentro do barco, como explica o senhor Guedes.
O senhor Guedes Vaz trabalha com bacalhau há décadas e sabe tudo sobre nosso peixe. Ele é português, mas entende as ironias do clima norueguês. Se ficar na temperatura ambiente, quase sempre negativa, o bacalhau congela, deixa de ser fresco.
“Há uma formação de cristais de gelo no conteúdo celular e o peixe perde a suculência toda”, explica o senhor Guedes. Então o gelo também esquenta, tudo depende de onde você começa, em que temperatura você está trabalhando.
E já que trabalhamos na temperatura congelante do porto, aproveitamos para esclarecer outra história esquisita: aquela de que existem cinco peixes diferentes que usam o nome de bacalhau.
Thomas mostra alguns peixes que são chamados de bacalhau. Ele explica como diferenciar outros peixes do verdadeiro bacalhau.
O Globo Mar continua navegando no mar da Noruega, mas agora a com uma pausa refrescante no vilarejo de Andenes, que é o nosso porto de apoio. Em frente ao mar. E essa é uma cidade marcada pelo mar também na sua história. Um monumento foi erguido para lembrar o grande naufrágio em 1821 em que morreram 30 pescadores de bacalhau.
A cidade hoje tem 2.600 habitantes e continua vivendo da pesca. Ao todo, 170 pais de família são pescadores. E tem também uma base militar, além de uma plataforma de lançamento de foguetes de pesquisa.
E apesar da neve que cai sete meses por ano, nada impede que a turma de Andenes pense e sonhe com a moda primavera-verão. Roupinhas menos quentes, afinal as temperaturas podem chegar a 20°C, chegar quem sabe até aos 25°C.
Mas nesse momento com neve e com tudo, nós vamos voltar para o mar, está na hora de pescar. Todos a bordo. Na chegada ao porto, surpresa: céu azul.   Dessa vez a fomos no barco de apoio, que vai se aproximar do barco do Thomas que já estava em alto mar pescando bacalhau, claro.
Segundo alguns autores, o bacalhau foi o peixe responsável pela expansão do antigo, do velho mundo. Porque os navegadores europeus começaram a ir cada vez mais longe, principalmente os portugueses, porque eles carregavam a bordo uma importante fonte de proteína e que não estragava. Qual era essa fonte? O bacalhau, ópa. O bacalhau salgado.
O bacalhau que alimentou os grandes navegadores do século XV em diante foi pescado no litoral da terra nova, no norte do Canadá. Foi tanta pesca, que o bacalhau acabou.
Após uma hora de navegação, chegamos ao ponto onde o barco do Thomas, o Karl Wilhelm, está pescando.  As águas são abençoadas do ponto de vista da pesca do bacalhau.  São mais de 10 barcos pescando na mesma área.
O comandante do barco e o marinheiro, controlam a chegada da rede. A operação é rápida, mas tem que ser feita também com calma, porque o mar balança muito. Ninguém pode cair na água porque ela é muito gelada.
Eles vão trazendo uma parte por vez do  cardume que está dentro do cerco. A rede é colocada dentro d’água. Os peixes se espalham por ela. Aí eles conseguem estrangular uma ponta da rede, fazer uma bolinha, aí trazem a bola cheia de peixe pra bordo. Em seguida, ele solta a boca da rede, abre e esvazia dentro do tanque. Cada bolsa tem cerca de 500 quilos de bacalhau. Esse é um processo que se repete até encher os porões.
E como o tempo muda rápido, logo vem outra leva.  Depois soltam todos. Aos poucos eles vão esvaziando a rede. Nessa hora, as mãos quase congelam. Mas o Globo Mar não para só porque o repórter congelou.
Outros países desenvolvidos, como o Canadá já viram seu estoque de bacalhau acabar e até hoje estão tentando recuperar. Como é que eles fazem na Noruega?  Como é que eles podem fornecer tanto bacalhau para o mundo e continuar tendo bacalhau?
“Eles trabalham com um sistema de cotas.Uma série de estudos determinam ao longo do ano qual a quantidade de cada pescado vai ser retirado do mar na safra seguinte” explica.
Mesmo com muita neve, ainda dá para conversar com mais um grande conhecedor do nosso peixe tão cobiçado. O doutor Guedes Vaz é veterinário de formação, ele é português legítimo, lá de Portugal, já trabalhou muitos anos para o governo português no controle do bacalhau e hoje ele é diretor industrial de uma grande empresa produtora, que vai para Noruega buscar o bacalhau.
Ele explica que vai tão longe porque lá tem o melhor bacalhau do mundo. E Por que o bacalhau ganhou tanta importância assim em Portugal?  Ele diz é o o alimento dos pobres. Um quilo de bacalhau dava de comer tranquilamente a quatro, cinco, seis pessoas.
Do mar, fomo direto para a fábrica, afinal, temos um grande mistério a desvendar. Bacalhau tem ou não tem cabeça? Vimos  um escorregador de cabeças de bacalhau. Isso é uma coisa fantástica. O bacalhau chega inteiro.  Corta a cabeça na máquina.  Depois é colocado com a cauda para frente. A máquina apanha a cauda, puxa o bacalhau através de umas lâminas.
As lâminas abrem o bacalhau ao meio. Depois, ele é lavado e vai para salga.  Como é que ela funciona? Ele se  Chama-se sal traçado porque não tem uma granilometria uniforme. Tem que ter grãos menores misturados para facilitar a penetração. Varia entre três milímetros e oito milímetros.
Depois de desvendar que bacalhau tem cabeça. Outra dúvida: Para onde vão as cabeças? Guedes explica que é salgada como o bacalhau.
“É mais um pedaço do bacalhau, com uma particularidade, é a parte mais saborosa do bacalhau. Num fim de semana,passa uma tarde inteira a comer isso”, completa.
No cais, o barco Karl Wilhelm e o comandante Thomas são ansiosamente aguardados. De Andenes, o bacalhau segue num caminhão até Portugal. São sete dias de viagem. Boa parte do bacalhau norueguês que chega ao Brasil passa por Portugal. O Brasil consome 35 mil toneladas por ano. Portugal, com uma população 20 vezes menor, 75 mil toneladas. São os dois maiores consumidores mundiais.

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