O anfitrião da equipe foi o Eduardo, dono do barco. E a equipe foi até o banco Royal Charlotte.
Fotos mostram os bastidores do programa sobre pesca oceânica
Poliana Abritta conversa com pescador que tem o recorde baiano do marlim
O banco Royal Charlotte é um banco de pesca, onde tem uma concentração muito grande de peixes, principalmente peixes de bico. Dentre eles estão o marlim-azul, dourado, marlim-branco e o sailfish. O banco Royal Charlotte é cenário de inúmeros campeonatos de pesca esportiva em especial da pesca de marlim e é um lugar famoso não só no Brasil.
A equipe foi dividida em dois barcos, com capacidade para nove pessoas no máximo. Não há muito conforto e o barulho do motor é alto o tempo todo. Mal dá pra bater papo.
Se você está achando que é só jogar o anzol na água. Que nada. O barco normalmente trabalha com seis linhas de pesca. Elas são colocadas nas varas e passam por braços – os outriggers, que servem para evitar que as linhas se enrosquem umas nas outras.
“A gente trabalha com a isca mais longe, e uma isca mais perto. O marlim às vezes ele vem e ataca a isca mais perto, às vezes ele fica pra atacar a isca mais longe. Quanto mais colorida é melhor”, explica Wellington.
“Você vai ver quando ele sair ali, aparecer a cara dele, você vai ver a coisa mais linda. Esse peixe ele muda de cor várias vezes. E geralmente quando a gente pega ele, ele está azul. Depois ele fica amarelo, dourado, tem uma hora que ele fica branco. É muito lindo. É uma paixão”, ressalta Eduardo.
A equipe consegue pegar uma cavala. Mas, esse foi só o primeiro peixe. A equipe foi atrás dos outros, sem esquecer do tão sonhado marlim. E como em toda boa pescaria, é preciso paciência. Funciona assim: o barco não fica parado.
O barco não para, porque na verdade eles querem capturar os grandes peixes que nadam a uma velocidade impressionante. Chegam a nadar a 80 quilômetros por hora, dependendo do tamanho, do peso, da força do animal. Então é o tempo todo assim. Passa o dia inteiro, horas e horas sempre navegando, navegando e com as vistas no mar.
São pelo menos oito horas de navegação num dia comum de pesca oceânica. Esperando o peixe fisgar. Inclusive o comandante. É uma mão no leme e os olhos no mar, só que lá atrás.
“O comandante, ele sempre está preocupado aonde está o peixe, onde tá a linha, se precisar dar ré ele vai dar ré, se precisar dar avante ele vai dar avante. se ele não tiver o conhecimento a gente não consegue pegar o peixe”, diz Eduardo.
Segurança é tudo. Afinal, muitas vezes o peixe pesa muito mais que o pescador. E o segredo está na regulagem da carretilha: quanto mais pesado o peixe, mais ela solta a linha. E aí é vencer o bicho pelo cansaço. E a trilha sonora da pescaria é o barulhinho da linha correndo.
O peixe ataca, mas nem sempre fisga. E foram vários ataques ao longo do dia. Um longo dia. Mas no final das contas: foi produtivo. Cinco dourados, três cavalas, três atuns e um bonito.
A pesca esportiva não tem fins comerciais. O que é pescado não pode ser vendido.
“Eles não podem vender. cada pescador esportivo ele necessariamente tem que ter uma licença de pescador. Igual pescador prof. Só que a licença dele é de amador. Essa licença de amador permite que ele retire 15 quilos de peixe mais um exemplar, no caso da pesca marinha”, afirma Marcelo.
Para os peixes de bico, como o marlim, a regra é outra: eles têm de ser devolvidos ao mar.
“E é muito importante que o pescador esportivo, o pescador amador tenha consciência”, ressalta Marcelo.
No segundo dia de navegação saindo de Canavieiras, a terra do marlim. E é atrás dele que a equipe do Globo Mar vai. Mas hoje com uma previsão meteorológica visual de chuva. Só que isso não é má notícia não. O negócio é o seguinte: dizem que quando o mar está um pouquinho mais agitado é mar pra peixe. É mar de marlim.
Hoje com a gente está o professor Zeca Pacheco, engenheiro de pesca.
O banco Royal Charlotte é considerado o terceiro melhor ponto de marlim do mundo. E assim passamos o dia. À espera da estrela dos mares.
“Seis horas e meia depois da gente zarpar, navegando, navegando, navegando, eis que surge o marlim. No sensor. Lá esta o bichinho”, diz Poliana Abritta.
Vamos tentar um truque de ultima hora. Um aperitivo em forma de comprimido pra atrair o peixe.
Mas não adiantou. Lá pelas tantas, a equipe descobriu que os marinheiros têm uma superstição. Não pode ter banana no barco. E logo na mochila da Poliana tinha.
“Diz-se que banana a bordo dá azar não pega peixe. É uma superstição barra pesada. A gente não sabe se é verdade ou mentira”, conta Eduardo.
“Gente, não quero ser responsável por isso. Então eu vou tirar o plástico e vou entregar pra iemanjá. Vocês me ajudem, por favor. Pra espantar o mau olhado”, responde Poliana.
Depois de nove horas de navegação, a equipe voltou de mãos vazias. Nada, nem um peixinho pra contar a história. Não no barco da Poliana, pelo menos. E nos outros dois, o saldo foi de um único dourado.
Mas a equipe não desiste. Aliás, esse é o segredo da pesca oceânica. Muitas tentativas. E amanha é um outro dia.
“Estamos no nosso terceiro dia de pescaria e hoje as apostas são altas. Porque a gente tem cinco lanchas na água à procura do marlim. O pessoal no nosso barco está começando a preparar as iscas, daqui a pouco, se Deus quiser, daqui a pouquinho tem peixe na linha. Quando o peixe dá o primeiro sinal eles começam a movimentar as iscas. Espaçam umas das outras, puxam umas pra mais perto, dão linha pra outras, pra elas se movimentarem mais perto do peixe. Tudo isso é uma forma de tentar atrair o peixe pra ele enfim abocanhar a isca”, explica Poliana.
A equipe saiu às 8h, e pegou o primeiro peixe às 13h. Desencantou. E foi mesmo. De repente, começou a aparecer um peixe atrás do outro. Descobriram um esconderijo. Dá pra acreditar? Um pedaço de madeira boiando no mar atraiu os peixes menores e, atrás deles, os maiores.
O sailfish é retirado da água por alguns instantes, só para o registro. E é um belo peixe.
“O que diferencia esse peixe dos outros, o sailfish é uma nadadeira em formato de vela. Belíssimo peixe. Peixe longitudinal que usa o bico pra dispersar o cardume pra poder pegar a presa”, explica Zeca.
Tudo explicado e o sailfish volta pra água, como manda a lei.
“Como ele cansou muito por conta da briga com a linha eles tão fazendo o seguinte, com o barco em movimento pra que a água passe ele consiga respirar ele consiga recuperar essa energia perdida e consiga nadar e voltar”, diz Zeca.
Fim do dia. Fim da pescaria.
A caminho de Canavieiras, a equipe recebe um aviso pelo rádio. Marlim na linha, num outro barco a 24 milhas da costa.
É incrível. Os marinheiros calcularam que o marlim deve ter mais de três metros de comprimento e, pelo menos, 250 quilos.
“É o Globo Mar acompanhando a batalha entre o pescador e o marlim no sul da Bahia. E essa quem venceu foi o pescador. É esse espetáculo que atrai os amantes da pesca esportiva do mundo todo. Não só os brasileiros como os estrangeiros. Essa é a graça. Trava a batalha, vence, leva, mas no final a recompensa é deixar o peixe ir embora”, afirma Poliana.
História de pescador que o Globo Mar assina embaixo e que vai guardar para a vida inteira.
Nota do professor Dr. Marcelo Vianna, do Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira UFRJ:
O Globo Mar por ser um programa jornalístico tem por principio interferir o mínimo possível na rotina dos personagens. A proposta do episódio foi apresentar ao publico a pesca esportiva oceânica com todas as contradições que a atividade possui.
Na embarcação onde a repórter Poliana Abritta se encontrava, havia quatro pescadores amadores devidamente licenciados que podiam embarcar legalmente, por viagem, 60 kg de peixe mais quatro exemplares de qualquer peso (respeitando as especificidades da legislação).
Em nenhum momento das filmagens essa quantidade ou especificidade foi desrespeitada. Todos os peixes embarcados faziam parte da quota referente a cada pescador/personagem e foram eles que definiram o destino dos mesmos.
Atualmente o estimulo a pesca amadora/esportiva tem sido considerado em muitos países como uma boa estratégia para conter a pesca predatória e diminuir a sobrepesca. Está provado que um peixe capturado nessa atividade gera mais recursos financeiros e empregos do que se fosse pescado profissionalmente para consumo. Consequentemente o aumento da pesca amadora em uma determinada região atua na contenção da pescaria profissional, sem prejuízo social, mas com significativa diminuição do esforço de pesca, favorecendo a sustentabilidade ambiental.
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